quinta-feira, 8 de março de 2012

A quem pertence a Copa do Mundo de 2014?

Bom,

Não vou falar muito... Vou deixar para que todos percebam qual o discurso da entidade que estupra os direitos civis (esta fala é minha). Me impressiona como o Capítal sobrepõem direitos nacionais.

Como eu disse, vou falar pouco... Mas não podemos passar em branco nessa história... Há um reflexos nesse modelo que nega a cidade a todos. Sem futurologia, por que existem fatos inegáveis nessa construção, mas teremos uma copa (pois isso acontece na cidade, ou acreditamos que o metrô chegará a Ribeirão das Neves? ou que as reformas da cidade vão chegar na esquecida região da Lagoinha?) que serve para que Cidade? Mobilidade? mobilidade para quem senhora FIFA?

Bom, deixo aqui o programa "Brasil das Gerais" (clique aqui para ver a parte 2 e aqui para assistir a parte 3 desse programa) do qual participou nosso amigo Luiz Nicácio, membro do GEFuT - Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas da Escola de Educação Física Fisioterapia e Terapia Ocupacional) da UFMG.




E Também, um dos caras que tem debatido muito a realização da copa do mundo: Professor Marcos Alvito (também membro da ANT - Associação Nacional dos Torcedores e Torcedoras)





Para fechar, nós professores, não podemos vacilar, nossos alunos  PRECISAM tomar consciência dessa questão presente nesse novo modelo pensado e erigido pela FIFA. Ensinar futebol, dando a bola para a meninada jogar é muito pouco (em minha opinião é um desserviço ao propósito do espaço escolar.)



No mais, deixo algumas indicações sobre esse tema:

Debate sobre a copa do mundo na USP:

http://www.youtube.com/watch?v=65F-2U2_WlA

Entrevista ao jornal Brasil de Fato com Gegê, do movimento de moradia:

http://www.youtube.com/watch?v=65F-2U2_WlA

Ainda do jornal Brasil de Fato - Copa pra quem?

http://www.brasildefato.com.br/node/6957

O gigante das chuteira de barros

http://www.brasildefato.com.br/node/8614

Um Abraço, na verdade, um abraço triste e melancólico...


terça-feira, 6 de março de 2012

Querem os atores do espaço esportivo encarar o racismo? Aliás nós queremos encarar a existência do Racismo?

Não me lembro quando foi. Devia ser umas 5:00 da manhã, acordo assustado. Eu estava em uma aula na UFMG, e no sonho me lembro de alguns colegas fazendo piadinhas com outro, negro, imitando som de macaco. O que me assustou foi o som de macaco que foi ficando alto, tão alto que fui chutado para fora do sonho.

Eu sonhei, Juan, jogador da Roma da Itália, não. Ele sentiu isso na pele (eu também mas nunca fui hostilizado por centenas de pessoas). Em seu rosto senti o mesmo sentimento que sempre tive quando essas coisas aconteciam (e acontecem) comigo. Vontade de chorar, de sair.

No dia 29 de fevereiro, Wallace, jogador de vôlei do Cruzeiro ao partir para o saque escuta de uma torcedora:

"Vai lá macaco, volta pro zoológico!"




Um parenteses, me lembro que no caso da reação de parte da torcida do Sada/Cruzeiro contra o Michael, jogador do Vôlei Futuro escutei alguns argumentos que me deixaram um pouco decepcionado: "esse caso é meramente esportivo, coisa do jogo..." ou, "disseram isso para desestabilizar o jogador", a diretoria do clube mineiro , à época se posicionou minimizando o fato, tratando como algo meramente esportivo (confira aqui) . Mas agora um caso semelhante acontece com um jogador do Cruzeiro, e com ele um novo posicionamento, enquanto um silencio reina no Minas Tênis Clube. Mas sobre a atitude do Sada/Cruzeiro, essa seria de fato, "meramente esportiva"? ou estariam de fato preocupado com as reações dos torcedores? estariam eles preocupados com os desdobramentos do racismo, da homofobia em nossa sociedade?

Voltando ao caso do Juan, mas ainda tentando pensar ainda nesse tratamento "esportivo" a esses casos, vamos pensar no que disse o manda chuva da FIFA, Joeph Blatter, sobre os casos de racismo no futebol:


"Isso não acontece. Não há racismo, talvez apenas um confronto entre jogadores com palavras ou gestos que não são os mais corretos, mas faz parte do jogo. No fim, um aperto de mão resolve, este tipo de coisa acontece." (http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2011/11/blatter-irrita-imprensa-inglesa-com-comentarios-sobre-racismo.html)


Vamos tentar pensar nessa fala. O dirigente de fato, acredita que não existe racismo no futebol? O futebol está isolado dos problemas sociais? Ou seja, os problemas que acontecem no campo são frutos de um destempero momentâneo e tudo que resta é justamente apertar as mãos? apaziguar? (por sinal, coisa que o Suarez, jogador do Liverpool não quis fazer com Evra, jogador do Manchester, após o jogador uruguaio ser acusado por tratar o francês por tratamento racista.)


Ou pensando ainda na fala do dirigente, a FIFA não quer tocar em um tema que a todo tempo acontece no mundo todo, um tema que exigiria da da instituição um posicionamento contundente?

Nessas suposições é possível perceber vários problemas. Primeiramente expondo fraturas de um espaço supostamente apresentado por alguns veículos de comunicação e algumas pessoas como um lugar repleto de "boas lições" mas também é um espaço, machista, homofóbico, racista. Como toda a nossa sociedade o futebol exacerba os problemas sociais, econômicos, políticos. O espaço esportivo convida a uma conformação, a um apaziguamento, ou "fingir que não ouviu", afinal, são coisas do jogo! (com isso não estou dizendo que sou contra o esporte, mas é preciso refletir sobre o que assistimos e ensinamos!)

Outro ponto que me preocupa é que a reação das federações nesses casos (que são vários) é sempre o de minimizá-los ao plano "esportivo". Ora, A Lazio foi multada (alguns acham que o caso da torcida do clube de Roma não é problema do clube...) e tudo segue como antes. Os torcedores provavelmente continuarão com suas ações em outros jogos. A torcedora no jogo do Cruzeiro contra o Minas, talvez esconda seu racismo novamente...

Mas o que fazer? Penso que a primeira mudança deve ser a postura do jogador. Assim como de nossos alunos, filhos e amigos violentados. Assumir o racismo, o ato homofóbico como uma violência e não como algo isolado, algo que pertence "naturalmente" ao plano esportivo. Assumir e divulgar a sua etnia, afinal, isso acontece com os judeus que escutam piadas e barulhos de câmara de gás da torcida adversária (a torcida do Feyenoord insulta os torcedores do Ajax que se referem como "judeus"). Aos não-brancos (Ladson-Bilings, 2006) é preciso assumir o discurso da diferença cultural, étnica, social. Não podemos acatar o discurso da igualdade (não estou falando em igualdade de direitos, vejam bem), do apaziguamento que somente apaga nossas singularidades, contribuem para a construção de uma sensibilidade em que a menina negra acha seu cabelo "ruim" e busca como padrão (ou o igual) o cabelo "liso" da modelo branca. É preciso essa percepção sem ressentimento, sem ódio.

Pensando no mundo do esporte (que não é uma instituição isolada da sociedade), é preciso tomar esses fatos como um problema social. Não é possível resolver esse problema com um comunicado oficial, ou uma multa aos clubes, é preciso pelo menos um debate aprofundado sobre o problema. Contudo, pensando nos dirigentes, na forma como os atletas são (de)formados, como o futebol busca sempre higienizar esse espaço tão complexo, sinceramente, penso no discurso da luta contra o racismo, a homofobia, o machismo e outras violências como mero escarnio, como mero cinismo global (plim-plim).

O racismo, dentro ou fora de campo/quadra, não pode ser pensado como coisa do jogo, ou que ao jogador e/ou jogadora devem simplesmente "não ligarem para o que aconteceu" da mesma forma como um adulto me dizia enquanto eu chorava por ser humilhado de novo. Se existe uma arma, essa não é o esquecimento, ou o discurso politicamente correto. Só há uma arma: o enfrentamento. Nada mais.

Referencias: 

LADSON-BILLINGS, G. Discursos racializados e epistemologias étnicas. Em: 
DENZIN, N.K.; LINCOLN, Y,S. e colaboradores. Porto Alegre: Artmed/Bookman, 
2006, p. 259-280.