quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ainda sobre Battisti...

Agora, é necessário mostrar outras visualizações sobre essas questões politicas (ou seria politricks???) no Caso de Cesare Battisti.

Talvez nada melhor do que perceber o que ele mesmo diz... Confesso que não gostei muito da carta, mas quem sou eu pra questionar um cara que viveu em guerra numa Italia que não lembra nem um pouco os romancinhos de banca de jornal? (alguem vai me matar por causa disso)

Alguem vai querer ironizar a comparação com a extradição da Olga... Bom, diz isso pra filha dela então...
Exmo. Sr. Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva.
Na qualidade de filha de Olga Benário Prestes, extraditada pelo Governo Vargas para a Alemanha nazista, para ser sacrificada numa câmera de gás, sinto-me no dever de subscrever a carta escrita pelo Sr. Carlos Lungarzo da Anistia Internacional (em anexo), na certeza de que seu compromisso com a defesa dos direitos humanos não permitirá que seja cometido pelo Brasil o crime de entregar Cesare Battisti a um destino semelhante ao vivido por minha mãe e minha família.
Atenciosamente,
Anita Leocádia Prestes
CARTA ABERTA
AO EXCELENTÍSSIMO
SENHOR LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
SUPREMO MAGISTRADO DA NAÇÃO BRASILEIRA
AO POVO BRASILEIRO
"Trinta anos mudam muitas coisas na vida dos homens, e às vezes fazem uma vida toda". (O homem em revolta - Albert Camus)
Se olharmos um pouco nosso passado a partir de um ponto de vista histórico, quantos entre nós, podem sinceramente dizer que nunca desejou afirmar a própria humanidade, de desenvolvê-la em todos os seus aspectos em uma ampla liberdade. Poucos. Pouquíssimos são os homens e mulheres de minha geração que não sonharam com um mundo diferente, mais justo.
Entretanto, frequentemente, por pura curiosidade ou circunstâncias, somente alguns decidiram lançar-se na luta, sacrificando a própria vida.
Minha história pessoal é notoriamente bastante conhecida para voltar de novo sobre as relações da escolha que me levou à luta armada. Apenas sei que éramos milhares, e que alguns morreram, outros estão presos, e muito exilados.
Sabíamos que podia acabar assim. Quantos foram os exemplos de revolução que faliram e que a história já nos havia revelado? Ainda assim, recomeçamos, erramos e até perdemos. Não tudo! Os sonhos continuam!
Muitas conquistas sociais que hoje os italianos estão usufruindo foram conquistadas graças ao sangue derramado por esses companheiros da utopia. Eu sou fruto desses anos 70, assim como muitos outros aqui no Brasil, inclusive muitos companheiros que hoje são responsáveis pelos destinos do povo brasileiro. Eu na verdade não perdi nada, porque não lutei por algo que podia levar comigo. Mas agora, detido aqui no Brasil não posso aceitar a humilhação de ser tratado de criminoso comum.
Por isso, frente à surpreendente obstinação de alguns ministros do STF que não querem ver o que era realmente a Itália dos anos 70, que me negam a intenção de meus atos; que fecharam os olhos frente à total falta de provas técnicas de minha culpabilidade referente aos quatro homicídios a mim atribuídos; não reconhecem a revelia do meu julgamento; a prescrição e quem sabe qual outro impedimento à extradição.
Além de tudo, é surpreendente e absurdo, que a Itália tenha me condenado por ativismo político e no Brasil alguns poucos teimam em me extraditar com base em envolvimento em crime comum. É um absurdo, principalmente por ter recebido do Governo Brasileiro a condição de refugiado, decisão à qual serei eternamente grato.
E frente ao fato das enormes dificuldades de ganhar essa batalha contra o poderoso governo italiano, o qual usou de todos os argumentos, ferramentas e armas, não me resta outra alternativa a não ser desde agora entrar em "GREVE DE FOME TOTAL", com o objetivo de que me sejam concedidos os direitos estabelecidos no estatuto do refugiado e preso político. Espero com isso impedir, num último ato de desespero, esta extradição, que para mim equivale a uma pena de morte.
Sempre lutei pela vida, mas se é para morrer, eu estou pronto, mas, nunca pela mão dos meus carrascos. Aqui neste país, no Brasil, continuarei minha luta até o fim, e, embora cansado, jamais vou desistir de lutar pela verdade. A verdade que alguns insistem em não querer ver, e este é o pior dos cegos, aquele que não quer ver.
Findo esta carta, agradecendo aos companheiros que desde o início da minha luta jamais me abandonaram e da mesma forma agradeço àqueles que chegaram de última hora, mas, que têm a mesma importância daqueles que estão ao meu lado desde o princípio de tudo. A vocês os meus sinceros agradecimentos. E como última sugestão eu recomendo que vocês continuem lutando pelos seus ideais, pelas suas convicções. Vale a pena!
Espero que o legado daqueles que tombaram no front da batalha não fique em vão. Podemos até perder uma batalha, mas tenho convicção de que a vitória nesta guerra está reservada aos que lutam pela generosa causa da justiça e da liberdade.
Cesar Battisti

Caso Battisti

Olha só, minhas amigas mosquinhas...

Não vou opinar como gauche, vou opinar pensando na lei... é um absurdo o supremo tribunal jogar no chão a jurisprudência de um caso qualquer.

para que eu não escreva mais bobagens publico aqui alguns textos sobre o caso.

PS: Deixo o crédito para a Maria Dirlene (que nem me conhece), da lista do Forum Social, que jogou essas questões lá...


CASO BATTISTI

O STF DECIDE QUEDESPERDIÇOU DEZ MESES

Celso Lungaretti (*)

No primeiro julgamento, o Supremo Tribunal Federal decidiu não respeitar adecisão do Governo Federal, que já concedera refúgio humanitário a CesareBattisti.

Ao invés de arquivar o processo de extradição italiano, como mandava a Lei doRefúgio e balizava a jurisprudência, resolveu mandar ambas para o espaço e metero bedelho em prerrogativa do Executivo.

No segundo julgamento, também por 5x4, aprovou o pedido de extradição formuladopelo Governo da Itália.

No terceiro julgamente, ainda por 5x4, decidiu que lhe cabe apenas verificar sehá empecilhos para a extradição, cabendo a decisão final ao presidente daRepública.

Ou seja, o STF dá sinal verde para a extradição, mas quem bate ou não o marteloé o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No meio de tanto blablablá empolado, parece ter escapado aos ministros doSupremo que, na prática, a terceira decisão anulou a primeira.

Pois, se é Lula quem decide, ele já decidiu, ao respaldar a decisão do ministroda Justiça Tarso Genro.

Tudo que aconteceu depois foi inútil. E um perseguido político ficou mais dezmeses na prisão à toa, por obra e graça de alguns ministros do Supremo,justiceiros no mau sentido.

Isto, claro, supondo-se que Lula se mantenha coerente com a posição assumida emjaneiro, quando defendeu seu ministro da devastadora pressão da Itália e daimprensa entreguista brasileira (que escreveu, neste episódio, uma de suaspáginas mais infames, tudo fazendo para colocar o Brasil na condição de capachoda Itália).

Em boa hora Anita Leocádia, com sua dignidade exemplar, enviou mensagem a Lula,"na qualidade de filha de Olga Benário Prestes, extraditada pelo Governo Vargaspara a Alemanha nazista, para ser sacrificada numa câmera de gás".

Ela subscreveu a carta de Carlos Lungarzo, membro da Anistia Internacional dosEUA, qualificando de "linchamento" a perseguição rancorosa a Battisti em doiscontinentes, mobilizando recursos astronômicos e, no caso brasileiro, comostensivo desrespeito à nossa soberania.

E é mesmo linchamento o único termo cabível nessas circunstâncias.

No julgamento desta quarta-feira (18), os linchadores não se conformaram com aderrota final e tudo fizeram para virar a mesa e embaralhar as cartas. Queriamporque queriam atrelar Lula ao tratado de extradição com a Itália.

Mas, a firmeza dos ministros Eros Grau e Marco Aurélio de Mello (principalmente)frustrou a chiadeira típica de maus perdedores.

O primeiro, inclusive, desabafou: o presidente pode até descumprir ou denunciaro tratado, se assim decidir. Responderá por seus atos.

O que não pode é o STF querer aprisionar Lula numa camisa de força, pois istotransformaria o Judiciário num Super-Poder, acima do próprio Executivo.

De resto, fica a esperança de que o voto do ministro Carlos Ayres de Brittotenha feito desabar toda a estratégia dos linchadores.

Pois a decisão apertadíssima dá todo direito a Lula de não seguir uma maioriaformada unica e tão somente por causa de puslimanidade do ministro Dias Toffoli.

Vale abrir um parêntesis.

Na véspera do segundo julgamento, os senadores Eduardo Suplicy e Inácio Arruda,o Carlos Lungarzo e eu estivemos no STF para entregar a cada ministro ummemorial do Lungarzo, comprovando com fartura de provas que a Itália praticaratorturas e incidira em aberrações jurídicas nos anos de chumbo.

No caso dos demais ministros, preferi ficar quieto. Não tinha afinidade comeles, no máximo simpatia pessoal pelo Joaquim Barbosa e o Marco Aurélio.

Quando chegou a vez de Toffoli, resolvi falar-lhe como companheiro, dizendo que,na luta contra a ditadura, aprendera a conhecer processos como o de Battisti,meras montagens que as autoridades elaboravam e faziam presos políticos corroborarem.

Percebendo a expressão de tédio do Toffoli, conclui que não era companheiro nemcultuava os valores de um companheiro. Não passava de um carreirista em busca do sucesso.

Não deu outra.
E agora, graças à sua omissão, o presidente Lula será obrigado a desagradar umdos lados, com evidente prejuízo político.

Mas, dando o merecido chute no traseiro italiano, apenas repetirá o que Sarkozy fez, sem que o mundo desabasse sobre ele.

Se resolver sacrificar um injustiçado à razão de Estado, vai provocar uma cisãono seu partido, que poderá ser fatal para quem tem como candidata à sucessão uma ex-militante da luta armada.

Além de ver voltada contra si a metáfora que recentemente fez sobre Judas.Prefiro acreditar que ele tomará a única decisão digna neste caso.

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* Jornalista e escritor, mantém os blogues

http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/

http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/