quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Caso Battisti

Olha só, minhas amigas mosquinhas...

Não vou opinar como gauche, vou opinar pensando na lei... é um absurdo o supremo tribunal jogar no chão a jurisprudência de um caso qualquer.

para que eu não escreva mais bobagens publico aqui alguns textos sobre o caso.

PS: Deixo o crédito para a Maria Dirlene (que nem me conhece), da lista do Forum Social, que jogou essas questões lá...


CASO BATTISTI

O STF DECIDE QUEDESPERDIÇOU DEZ MESES

Celso Lungaretti (*)

No primeiro julgamento, o Supremo Tribunal Federal decidiu não respeitar adecisão do Governo Federal, que já concedera refúgio humanitário a CesareBattisti.

Ao invés de arquivar o processo de extradição italiano, como mandava a Lei doRefúgio e balizava a jurisprudência, resolveu mandar ambas para o espaço e metero bedelho em prerrogativa do Executivo.

No segundo julgamento, também por 5x4, aprovou o pedido de extradição formuladopelo Governo da Itália.

No terceiro julgamente, ainda por 5x4, decidiu que lhe cabe apenas verificar sehá empecilhos para a extradição, cabendo a decisão final ao presidente daRepública.

Ou seja, o STF dá sinal verde para a extradição, mas quem bate ou não o marteloé o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No meio de tanto blablablá empolado, parece ter escapado aos ministros doSupremo que, na prática, a terceira decisão anulou a primeira.

Pois, se é Lula quem decide, ele já decidiu, ao respaldar a decisão do ministroda Justiça Tarso Genro.

Tudo que aconteceu depois foi inútil. E um perseguido político ficou mais dezmeses na prisão à toa, por obra e graça de alguns ministros do Supremo,justiceiros no mau sentido.

Isto, claro, supondo-se que Lula se mantenha coerente com a posição assumida emjaneiro, quando defendeu seu ministro da devastadora pressão da Itália e daimprensa entreguista brasileira (que escreveu, neste episódio, uma de suaspáginas mais infames, tudo fazendo para colocar o Brasil na condição de capachoda Itália).

Em boa hora Anita Leocádia, com sua dignidade exemplar, enviou mensagem a Lula,"na qualidade de filha de Olga Benário Prestes, extraditada pelo Governo Vargaspara a Alemanha nazista, para ser sacrificada numa câmera de gás".

Ela subscreveu a carta de Carlos Lungarzo, membro da Anistia Internacional dosEUA, qualificando de "linchamento" a perseguição rancorosa a Battisti em doiscontinentes, mobilizando recursos astronômicos e, no caso brasileiro, comostensivo desrespeito à nossa soberania.

E é mesmo linchamento o único termo cabível nessas circunstâncias.

No julgamento desta quarta-feira (18), os linchadores não se conformaram com aderrota final e tudo fizeram para virar a mesa e embaralhar as cartas. Queriamporque queriam atrelar Lula ao tratado de extradição com a Itália.

Mas, a firmeza dos ministros Eros Grau e Marco Aurélio de Mello (principalmente)frustrou a chiadeira típica de maus perdedores.

O primeiro, inclusive, desabafou: o presidente pode até descumprir ou denunciaro tratado, se assim decidir. Responderá por seus atos.

O que não pode é o STF querer aprisionar Lula numa camisa de força, pois istotransformaria o Judiciário num Super-Poder, acima do próprio Executivo.

De resto, fica a esperança de que o voto do ministro Carlos Ayres de Brittotenha feito desabar toda a estratégia dos linchadores.

Pois a decisão apertadíssima dá todo direito a Lula de não seguir uma maioriaformada unica e tão somente por causa de puslimanidade do ministro Dias Toffoli.

Vale abrir um parêntesis.

Na véspera do segundo julgamento, os senadores Eduardo Suplicy e Inácio Arruda,o Carlos Lungarzo e eu estivemos no STF para entregar a cada ministro ummemorial do Lungarzo, comprovando com fartura de provas que a Itália praticaratorturas e incidira em aberrações jurídicas nos anos de chumbo.

No caso dos demais ministros, preferi ficar quieto. Não tinha afinidade comeles, no máximo simpatia pessoal pelo Joaquim Barbosa e o Marco Aurélio.

Quando chegou a vez de Toffoli, resolvi falar-lhe como companheiro, dizendo que,na luta contra a ditadura, aprendera a conhecer processos como o de Battisti,meras montagens que as autoridades elaboravam e faziam presos políticos corroborarem.

Percebendo a expressão de tédio do Toffoli, conclui que não era companheiro nemcultuava os valores de um companheiro. Não passava de um carreirista em busca do sucesso.

Não deu outra.
E agora, graças à sua omissão, o presidente Lula será obrigado a desagradar umdos lados, com evidente prejuízo político.

Mas, dando o merecido chute no traseiro italiano, apenas repetirá o que Sarkozy fez, sem que o mundo desabasse sobre ele.

Se resolver sacrificar um injustiçado à razão de Estado, vai provocar uma cisãono seu partido, que poderá ser fatal para quem tem como candidata à sucessão uma ex-militante da luta armada.

Além de ver voltada contra si a metáfora que recentemente fez sobre Judas.Prefiro acreditar que ele tomará a única decisão digna neste caso.

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* Jornalista e escritor, mantém os blogues

http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/

http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

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